O papa Bento 16 proclamou beato seu antecessor, João Paulo 2º, em uma solene cerimônia realizada na praça de São Pedro, no Vaticano, neste domingo (01). Cerca de um milhão de pessoas de todo o mundo participaram da celebração católica, informou a polícia de Roma.
João Paulo 2º foi proclamado beato às 10h38 (5h38 em Brasília), enquanto os presentes na Praça de São Pedro e nas ruas e praças adjacentes romperam em aplausos que duraram vários minutos, enquanto soava uma música sacra. A beatificação é a etapa anterior à canonização.
O papa Bento 16 elogiou o novo beato por ter tido "a força de um gigante" para "inverter" a tendência da "sociedade, da cultura e dos sistemas político e econômicos" de abandonar o cristianismo. "Ajudou os cristãos de todo o mundo a não ter medo de serem chamados de cristãos, de pertencer à Igreja, de falar do Evangelho", disse.
Em sua homília, Bento 16 também explicou que decidiu acelerar o processo de beatificação por conta da grande veneração popular por João Paulo 2°. "Passaram-se seis anos desde o dia em que nos encontrávamos nesta praça para celebrar o funeral do papa João Paulo 2°. Já naquele dia sentíamos pairar o perfume de sua santidade, tendo o povo de Deus manifestado de muitas maneiras a sua veneração por ele. Hoje nos nossos olhos brilha, na plena luz de Cristo ressuscitado, a amada e venerada figura de João Paulo 2º. Seu nome junta-se à série de santos e beatos que ele mesmo proclamou durante os quase 27 anos de pontificado."
Bento 16, primeiro pontífice em vários séculos a proclamar beato seu antecessor, recordou que o Papa polonês vivenciou o confronto entre marxismo e cristianismo. "Aquela carga de esperança que de certa maneira se deu ao marxismo e à ideologia do progresso, ele a reivindicou legitimamente para o cristianismo, restituindo a fisionomia autêntica da esperança", disse.
O papa leu a fórmula da beatificação: "Concedemos que o venerável servo de Deus, João Paulo 2°, papa, de agora em diante, seja chamado de beato e seja celebrado no dia 22 de outubro."
Logo após a proclamação do novo beato, um grande retrato de João Paulo 2° foi exposto na fachada da Basílica, sob os aplausos da multidão e o papa Bento 16 recebeu a relíquia que contém o sangue de Karol Wojtyla e a beijou.
O polonês, Karol Wojtyla, que foi nomeado para liderar a Igreja Católica em 1978, morreu aos 84 anos em 2005.
Multidão
Delegações de 86 países, 22 delas lideradas por chefes de Estado ou de Governo, estavam presentes na cerimônia. A missa solene foi concelebrada por 800 religiosos, que deram a comunhão à multidão de peregrinos reunidos na praça e nas ruas próximas à Basílica de São Pedro. O Brasil foi representado pelo vice-presidente Michel Temer.
A prefeitura de Roma instalou 14 telões pela cidade para que as pessoas que não conseguiram entrar na praça consigam assistir a cerimônia. Devido à pressão dos peregrinos, a polícia italiana foi obrigada a abrir as cancelas que dão acesso à Praça de São Pedro quatro horas antes do previsto.
O caixão de João Paulo 2º ficará exposto para a veneração dos fiéis no altar central da basílica e depois será colocado de forma definitiva na Capela de São Sebastião, ao lado da Pietà de Michelangelo.
A um passo da santidade
O milagre atribuído a João Paulo 2º para que se ele seja reconhecido como beato é a cura "imediata e inexplicável" da freira francesa Marie Simon-Pierre. Ela teria se curado do mal de Parkinson após orações e pedidos a João Paulo 2º.
A beatificação o deixa a um passo da santidade. "Existe a possibilidade de que sua canonização seja realizada em breve", reconheceu neste sábado o cardeal Angelo Amato, prefeito da Congregação para a Causa dos Santos, que contou que chegaram "de todas as partes do mundo" registros de novos milagres atribuídos a João Paulo 2º.
Para ser santo é preciso ter intercedido em um segundo milagre, para o qual é aberto um novo processo, que em alguns casos pode levar séculos.